MoonSorrow (Livro Online)


                                   

                                                           Capitulo um
                                  - Histórias sob a luz do luar -

            De repente sua vida acaba com a melodia da tristeza ecoando novamente. Perdido entre as razões que foram esquecidas durante o caminho que foi escolhido. Nunca mais será visto com bons olhos. Será apenas um monstro ao ver da humanidade. Então seu olhar se encherá de lagrimas que não cessarão de escorregar pelo seu rosto. Seus lábios se calarão. Seu brilho só será ofuscado pelo sol. Aquele que te deu vida, aquele que lhe é superior, nunca mais te perdoará. E longe do mundo você viverá, ficando para trás.
            Era uma noite comum, fria, com uma lua cheia brilhante passando energia para qualquer um que a observasse atentamente e contemplasse a sua maravilhosa dança noturna, guiando seus corações à eterna paz. Tsukimaru Kensou, um homem com muito poder aquisitivo na pequena cidade chamada Hakuru, observava atentamente o luar daquela noite. Ele vestia uma armadura azul e qualquer um que o encarasse, notaria o tapa-olho também azul que cobria seu olho direito. No seu capacete, na região da testa, existia uma peça de metal em forma de lua com cor de ouro, seria aquilo um sinônimo de poder? Seus olhos brilhavam enquanto, fixamente, observava a lua na frente de sua casa. O silencio daquela cena era a melodia perfeita para uma ascensão espiritual. O silencia só foi quebrado quando Yame, sua criada, abrira a porta e se dirigira a ele com passos suaves na grama do quintal.
   -Kensou-sama o que está fazendo aqui sozinho à uma hora dessas? Perguntou Yame envergonhada esperando uma resposta bruta de seu senhor...
   -Estou observando a lua- Respondeu Tsukimaru -Yame, você não deveria estar em seus aposentos?
   -Não consigo dormir... O senhor quer que eu me retire?
   -Não precisa. Acho muito egoísta negar a você uma visão como essa. Veja a lua, ela não parece triste?- Yame não consegue se controlar e rir-Tsc, por que está rindo?
   -Me perdoe. É que o senhor disse que a lua parece triste. Não acho que isso faça sentido.
   -Hmm... Não esperava menos de uma simples mulher. Você não compreende simplesmente por possuir um espírito fraco. Sua mente está fechada para novos horizontes.
   Yame fica muito envergonhada com as palavras de Tsukimaru. Por um momento ela pensa em voltar ao seu quarto e fingir que nunca saiu de lá, mas algo a impulsioná-la fazer um pedido inusitado:
   -Então, por que não me explica Kensou-sama? Quem sabe assim eu possa entender!
   -Nada mudará o fato de seu espírito ser fraco. Mas vou te contar uma história, a minha história. Quem sabe assim você passe a entender como você mesmo disse. Preste atenção, pois só falarei uma vez!
   Yame não podia acreditar "O que está acontecendo com o Kensou-sama?" ela pensava. Mas no mesmo instante percebeu que nada importava, aquele momento deveria ser eterno para ela que sempre o amou. E com um suspiro aliviado, concordou.
   -Que bom que você não saiu correndo...
Tsukimaru parecia gostar da idéia de contar seu passado para alguém, mesmo que esse alguém fosse apenas sua empregada.
   -Há muito tempo atrás, eu era uma pessoa simples, assim como você. Não entendia a natureza e muito menos a razão da minha existência, e isso me corroia por dentro...


-100 anos mais cedo-           
           
E lá estava o jovem rapaz à beira do abismo, literalmente. Era dia, e, naquela montanha o vento soprava mais forte que o normal fazendo com que seus cabelos lisos e pretos se bagunçassem. Aquela era uma brisa familiar, uma brisa de tranqüilidade, uma brisa de paz. Na beira do abismo o único ruído alto o bastante para incomodá-lo era o som dos seus próprios pensamentos. Pensamentos perigosos, questões e mais questões sem respostas: Quem sou eu, o que faço nesse mundo? Para quê nasci se morrerei? Do que adianta minha passagem por esse mundo se nada poderei fazer a respeito dessa realidade cruel a qual sou submetido? Sou pisado pelos mais fortes, insultado pelos mais inteligentes, deixado para trás pelos mais ágeis, humilhado pelos ricos... Eu quero mudar tudo isso. Quero ter poder! Mas como obter se nem ao menos sei meu propósito nesse miserável mundo?!
   -Tsc -resmungou- Este céu... Tão azul... Essa luz... Tão brilhante... Por que não me sinto bem com isso? Deveria estar feliz por viver! Sinto saudades da lua, ó lua, por que és tão bondosa a ponto de se deixar dominar por alguém tão egoísta como o sol? Este mesmo sol que me cega... Este mesmo sol que me fez perder o olho direito... Se não fosse pelo seu brilho, não teria recebido aquele maldito golpe! Eu queria ser uma estrela para que a lua me levasse com ela todo o amanhecer. Pelo menos assim saberia qual seria meu propósito, brilhar ao teu lado...

-100 anos mais tarde-

   -Eu sei a razão da minha existência -Diz Yame interrompendo Tsukimaru- Devo servi-lo assim como meu marido serve ao senhor. Com lealdade e respeito!
   -Isso não é o bastante para ser diferente Você seria diferente se não se conformasse com sua vida tola!
   -Desculpe a minha insolência Kensou-sama, mas eu não acho que minha vida seja uma vida tola. Eu não preciso ser diferente de ninguém e agradeço ao criador por ter me feito assim. E agradeço a ele por ter colocado o senhor no caminho da minha família, se não fosse o senhor hoje eu poderia estar morta.
   -Criador? Você acredita mesmo que exista um ser superior que nos criou? Eu acredito que sim, mas não acredito que seja superior a nós! Seria apenas "igual".
Errou ao criar a humanidade do jeito que ela é, e erra por nos abandonar! Eu tenho fé apenas no que sei que faria algo por mim... E ele, aonde quer que esteja só fica observando a nós, suas marionetes, nesse grande jogo cósmico que é a existência...
   -O senhor não deveria falar assim Kensou-sama...
   -Cale-se Yame... Ou você já se cansou da história que eu estava contando?
   -Não é isso, é que...
   -Então me deixe terminar!
Yame se assusta com Tsukimaru. Ele parecia que possuía uma dupla personalidade. Ás vezes bom e sábio como um cervo e ás vezes cruel e maldoso como um leão. Nada poderia fazer além de se calar.
   -Me desculpe -disse ele- Eu estava reclamando das pessoas que não respeitam as outras por algum motivo e eu fazendo o mesmo com você... A linda entre o ser e o não ser é muito curta e facilmente se quebra! Em um momento as palavras saem de sua boca como um néctar e em outras, você as deixa escapar como trovões em uma tempestade...
Os olhos de Yame brilhavam e ela, cada vez mais, se sentia feliz por estar ao lado de uma pessoa como Tsukimaru Kensou, era o que pensava.
   -Naquele mesmo dia Tansou, um amigo meu, havia me mandado um recado para que viesse a encontrá-lo em sua casa. Provavelmente mais algum trabalho para mim...
                                  
-100 anos mais cedo-
           
A descida da montanha era perigosa, não para o jovem Tsukimaru que conhecia todos os segredos daquele local que um dia se tornaria seu lar. Depois de alguns minutos de descida, ele já podia avistar a sua vila, Hakuro. A casa de Tansou ficava um pouco longe da montanha, uma caminhada de 10 minutos. Tsukimaru não parava de se questionar, sua mente era um ponto de interrogação. Mas naquele momento, ele deveria voltar à realidade. A realidade em que ele deveria viver e para viver deveria trabalhar. O chão de terra era repleto de pedrinhas que machucavam os pés descalços de Tsukimaru, mas nada o incomodava naquele estado de questionamento, a não ser ele mesmo. Logo avista a casa de Tansou, um tanto chamativa era aquela residência, refletia o dono.
            Assim que põe os pés no quintal da casa é recebido com um olhar assassino de Tansou, homem forte com vestimentas elegante e uma bandana na cabeça. O olhar assassino logo é trocado por um sorriso e um abraço entre amigos de infância.
   -Novamente sozinho naquela montanha, hein Tsukimaru?! -Diz Tansou enquanto os dois caminhavam para o interior da casa. O quintal de Tansou era dominado pelo verde da grama e de suas árvores ainda em desenvolvimento. Aquela seria a casa mais bela e mais rica da vila ainda em crescimento. -Você ainda se pergunta ás mesmas bobagens?
   -Não chame os pensamentos de um homem de bobagens.
   -E o que seriam então? Contos de fada? Se você procura uma resposta, eu lhe darei! Riqueza! A razão para qual viemos ao mundo é ser rico e honrar ao nosso criador.
   -Isso sim pode ser considerado bobagem - Diz Tsukimaru com um sorriso arrogante. -Essa sua fé cega chega a ser irritante!
   -Não diga isso! O seu ceticismo é a única coisa irritante aqui. Você não tem que se culpar por não ter conseguido tudo o que queria Tsukimaru. Eu já te disse que se você quisesse poderíamos ser sócios no meu negócio!
   -Você conquistou tudo, eu não tenho direito de fingir que algo aqui seria meu...
   -Mas se não fosse por você, nada aqui seria meu. Se você não tivesse se metido na minha briga eu estaria morto! Até hoje me culpo pela sua perda...
   -Não me faz falta. E eu não fiz nada além do meu dever. Quem ao ver um amigo em perigo seria capaz de ignorar e ir embora?
   -Ok Tsukimaru. Eu não te chamei aqui para falarmos do passado. Já que seu orgulho é tão grande a ponto de não aceitar meu pedido, pelo menos aceite um trabalho.
   -Isso eu não posso negar pois preciso de dinheiro...
   -Eu sei Tsukimaru. Veja esta vila, está crescendo cada vez mais e mais! E tudo por minha causa!
   -Não seja arrogante Tansou!
   -Me desculpe mais essa é a mais pura verdade. E por isso, preciso de alguém a quem tenho confiança para entregar uma encomenda a um mercante da capital. Essa carga é muito valiosa, e como sei que você é o único que possui habilidade suficiente para enfrentar qualquer um que tentasse roubá-la, te peço esse favor.
   -Pagando-me bem, nada te negarei...
   -Como você é controverso Tsukimaru. -Os dois riem alto com a situação.
   Tsukimaru aceita o pedido de Tansou e decide entregar a encomenda. -Espere aqui- Disse Tansou que se dirigia ao interior de sua residência. Alguns minutos depois ele volta com um baú enrolado em panos, era impossível ver o que tinha dentro.
   -Não importa o que aconteça, não abra! -Disse Tansou, seu olhar era sério e temeroso.
O que será que havia dentro daquele embrulho? Tsukimaru nem ousou pensar.
            Tudo o que ele tinha de fazer era levar o embrulho para a capital que ficava a três dias de caminhada do lugar que ele estava. Já era quase meio-dia e Tsukimaru saiu em sua jornada. Enquanto caminhava era abordado pelas mesmas questões de sempre. Parecia aéreo, como se nada ao seu redor lhe incomodasse, mas não era bem assim. Depois de algumas horas de caminhada Tsukimaru avistou um jovem que parecia ter uns 18 anos sendo espancado por dois homens.
   -Ei. O que estão fazendo? -Disse ele. Um dos homens parou e olhou para Tsukimaru.
   -O que estamos fazendo não é da sua conta rapaz, siga seu caminho se não quiser morrer! -Disse ele.
   O jovem que estava sendo espancado quase não conseguia abrir os olhos, mas com um esforço enxergou quem estava lhe salvando ou "quem seria espancado com ele" pensou.
   -Olhe Hayato -Disse o outro homem se dirigindo ao primeiro -Esse magrelo deve estar a fim de morrer. Por que não o surramos também?
   -Cale-se Kaya. Mas, devemos fazer isso. Ele nos viu surrando esse ladrão, não pode viver também!
   -Eu não sou ladrão -Disse o jovem que estava deitado com muita fraqueza -Eu só peguei de volta o que vocês me roubaram!
Tsukimaru começara a entender o que estava acontecendo ali. Era uma situação comum naqueles tempos. Um bando de ladrões saqueava alguma aldeia. E então algum carinha metido a herói ia tentar recuperar seus bens. "Que se dane" ele pensou.
   -Não gosto de ver pessoas fortes atacando pessoas fracas! Disse Tsukimaru
   -cala a boca idiota, eu não sou fraco! Tsukimaru ficou surpreso com a arrogância do jovem rapaz, mas no mesmo momento entendeu. "Orgulho acima de tudo" pensou.
   -Tudo bem, mas você ainda está no chão, devo te ajudar.
   -Você acha que será capaz de fazer algo? -Disse Hayato
   -Ele é um bobão mesmo, Hayato! Os dois homens começam a rir e não percebem a aproximação de Tsukimaru, que com um único golpe de uma adaga que guardava na cintura, corta fora o braço de Hayato.
   -MISERÁVEL! -grita o homem que sangrava sem parar. E antes que Kaya pudesse dizer algo, teve sua barriga cortada despencando no chão. -KAYA!
   -Antes de julgar os outros pela aparência olhem para si mesmos montes de nada! -Com essas palavras Tsukimaru corta a garganta de Hayato que também cai no chão. O jovem que estava sendo agredido parecia espantado com aquilo que havia visto.
   -Qual é o seu nome? Perguntou Tsukimaru estendendo sua mão.
   -Kazuo Ryo, e o seu?
   -Kensou Tsukimaru. Volte para sua casa, e nunca mais tente ser o herói.
   -Obrigado, Kensou-kun. Mas eu não consigo andar direito e já estar anoitecendo. Não quer passar a noite em minha casa? É humilde, mas minha família é hospitaleira!
   -É verdade, está anoitecendo... -Neste momento um sorriso surgiu na face de Tsukimaru, novamente ele poderia ver a lua. -O que você tentou roubar daqueles dois?
   -Isso -Responde Ryo amostrando um anel para Tsukimaru -Ele pertence a minha mãe, a única lembrança que tenho do meu pai falecido...
   -Entendo...
   -Será que você poderia me ajudar a caminhar? Machuquei a perna correndo deles...
   -Posso, mas é bom que pegue o caminho mais curto para sua casa!
   -É o que farei! - Responde Ryo com um sorriso.
            E assim o dia estava acabando e ao contrário do dia, parecia que uma nova amizade começava. Tsukimaru era uma pessoa que tinha dificuldades para conseguir amigos pelo fato de pensar muito em si mesmo e se esquece da vida ao seu redor. Mas como nunca tinha visto aquele jovem antes, poderia ser diferente.
   -A minha vila está a alguns minutos daqui, não demoraremos a chegar.
   -Tudo bem. Eu pretendia caminhar à noite também, mas seu pedido me pareceu irrecusável. - Diz Tsukimaru.
            Mesmo não gostando de incomodar os outros, Tsukimaru não poderia recusar aquela oferta, pois era um agradecimento de alguém a quem ele salvou. Afinal, só um tolo recusaria um jantar e uma cama para dormir. A única coisa que lhe incomodava era o fato de dormir sobre um teto sem poder sentir a luz do luar. A atração que Tsukimaru possuía pela lua era algo inigualável. A vontade de compreender os mistérios que envolvem a vida na terra. Para ele alguém que estava acima da terra conheceria todas as respostas.
            Os dois caminhavam há algum tempo quando Ryo diz a Tsukimaru que já avistava o acampamento onde Ryo morava. Abaixo da colina onde eles estavam existia um cercado, dentro do cercado algumas barracas. Dois homens cantavam ao redor de uma fogueira e tocavam um Sagen enquanto duas mulheres dançavam. Uma das mulheres parecia ser algo para Ryo, já que sorriu ao ver aquela cena.
    -Aquela vestida de branco é minha irmã e o homem com o Sagen é meu tio – Diz Ryo que parecia irritado por ver seus parentes se divertindo.
Logo a garota percebe a presença dos dois e aponta para a colina sorrindo correndo em direção ao irmão. O tio de Ryo olhava fixamente para Tsukimaru, que logo percebeu, e parecia um pouco desconfiado. Quanto ao outro homem, parecia ser cego, e nem viu de onde vinham os dois. A outra mulher sentou-se em um tronco de madeira ao lado do cego. Logo a irmã de Ryo chegara ao encontro dos dois e já foi abraçando o irmão.
    -Seu idiota. Por que saiu sem avisar? E ainda está todo machucado! O que aconteceu? Pergunta a garota. Tsukimaru apenas observa aquele momento em família.
    -Eu fui recuperar o Anel da nossa mãe e aqueles ladrões me atacaram. - Respondeu Ryo - Se não fosse o Kensou-san eu poderia estar morto. Mas vocês, eu saio de casa sem avisar, me arrisco, quase morro e vocês estão se divertindo?!
    -Nosso tio disse que você já era homem o bastante para resolver seus problemas. Esse é o Kensou-kun? Pergunta a garota
    -Kensou Tsukimaru. Responde Tsukimaru.
    -Meu nome é Hiromi. Diz a garota.
A bela Hiromi era uma garota de longos cabelos verdes escuros e olhos cor-de-cana. Ela aparentava ter uns 17 anos e parecia estar feliz com o retorno seguro de Ryo e por estar conhecendo Tsukimaru. Antes que mais uma palavra fosse dita Hiromi segurou a mão de Tsukimaru e o puxou dizendo: Venha conhecer nosso tio!
    -Espere! – Disse Ryo – Estou muito machucado e não posso andar sozinho...
Foi ai que Hiromi notou os ferimentos do irmão e com um suspiro o apoiou em e o ajudou a caminhar. Tsukimaru foi logo atrás dos dois, um pouco inseguro por perceber que o tio dos dois ainda o observava fixamente. Ele sabia que não poderia ficar muito tempo ali para não arrumar problemas. E sabia também que, talvez, a encomenda que ele levava poderia ser alvo de ladrões pondo em risco aquela família. Não seria justo ele salvar Ryo e acabar matando toda a sua família.
    -Assim que amanhecer – Ele pensou – Irei embora.
Mas será que o destino deseja o mesmo que Tsukimaru ou está guardando uma surpresa para esse homem sem respostas?! Ninguém nunca vai saber o que trama o destino...